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PV de todas e de todos: como rejuvenescer o partido, atrair mais mulheres e diversidade?

Lohanna França

Deputada Estadual

Recebi como um oportuno desafio a tripla questão que os organizadores desta publicação me propuseram como tema deste artigo. São três tópicos que considero fundamentais para qualquer agremiação partidária que se proponha a ser contemporânea de seu tempo. Sem qualquer pretensão de esgotar o tema, darei a respeito dele as respostas que pude construir durante a trajetória que percorri até aqui na vida pública. 

Mais jovens

Trato, primeiro, da fundamental ideia de rejuvenescer o PV. E peço licença para raciocinar a partir do meu caso pessoal. Penso que o que me atraiu ao PV, enquanto militante com menos de 30 anos de idade, foi o que nas últimas décadas também atraiu muitas e muitos jovens: a compreensão da importância dessa causa central para o nosso tempo, que é a causa ambiental, conectada à sociabilidade, à saúde, à economia, à arte, à espiritualidade e à política. 

E acredito que aqui estão indicados os caminhos para que atinjamos esse rejuvenescimento. Sendo educadora por vocação, com uma experiência que inclui meninos e meninas do ensino fundamental, estou convencida de que a via privilegiada para nós o alcançarmos é a da educação, seja ela a que se ministra na escola, seja a que se faz em outras iniciativas, inclusive em organizações não governamentais e na mídia.

Não ignoro que o potencial de atração da proposta política verde já foi maior entre os jovens. Penso, entretanto, que é preciso fazer aqui uma reflexão serena. Não foi a nossa causa que perdeu apelo. Pelo contrário: nunca antes se viu tanta urgência ambiental quanto no nosso período, a começar por questões macro, como as climáticas, e continuando pelas questões locais, como a defesa de uma economia sustentável nos estados brasileiros. 

O esforço educacional que precisamos fazer é, portanto, o de fazer com que essa urgência fique mais clara, assim como precisa ficar mais claro um elementar princípio do ambientalismo, que é a articulação entre a ação local e a conjuntura global, entre a militância individual e a mobilização político-partidária. Ou seja: se os jovens, por força da educação, forem convencidos de que podem fazer diferença, acredito que eles vão se juntar à causa.

Mais mulheres

Tomando a minha condição de mulher e militante da causa verde como ponto de partida, julgo fundamental partir do princípio de que o ambientalismo é feito essencialmente de cuidado. E o cuidado é tarefa comum a todos os gêneros e etnias, todas as classes e faixas etárias, todos os que se importam com as bases sustentáveis da nossa existência. É claro que a mulher não pode ser deixada de fora desse esforço conjunto, desde o planejamento até a execução.

Para tanto, julgo fundamental politizar o potencial feminino de cuidado, o que se faz pela via da mobilização de bases, da formação teórica e da ação coordenada. As mulheres, com sua generosidade e sua sensibilidade, aliada à sua capacidade técnica, por certo vão abraçar a militância verde que busca cuidar da casa comum, que é a Terra, e da causa de todos, que é a busca de uma civilização sustentável.

Entretanto, sabemos que há bem menos mulheres na política verde do que gostaríamos. E aqui penso ser fundamental que o partido renove o modo como faz a sua comunicação social e constrói o seu apelo. É preciso dar uma face também feminina a esse esforço de divulgação da política verde, para que nela se reconheçam cada vez mais mulheres. E, para falar às mulheres, o PV deve aprender a se expressar a partir das expectativas delas.

Tomo a liberdade de sugerir aqui um letramento sobre o feminino no âmbito do PV. Desse esforço pode resultar, quem sabe, uma série de peças, como textos impressos e material audiovisual, capazes de dar sintonia fina à comunicação do partido com as mulheres. Para mim e para a minha equipe, será uma alegria participar da discussão conjunta e democrática da concepção e da realização de tais peças e de eventos que também podem ser feitos.

Mais diversidade

Para um partido que já nasceu comprometido com a proteção e a defesa da biodiversidade tanto fora do Brasil quanto dentro dele, estruturar seu trabalho pelo respeito e pela busca da diversidade de membros não é uma escolha e sim uma exigência incontornável da coerência. Simplesmente não se pode falar em política verde sem falar também em diversidade de militantes e, o que é importante, de membros das estruturas dirigentes.

Nesse sentido, o que vemos é que a diversidade é pequena no PV não porque o partido assim o queira, mas porque ele está inserido no contexto partidário brasileiro. A despeito de muitos e valorosos esforços, e de louváveis exceções, inclusive no PV, há ainda muito o que construir em termos de diversidade interna no nosso partido, seja em termos de etnia e de condição socioeconômica, seja quanto ao gênero e à orientação sexual.

Comprometido constitutivamente com a causa antirracista, com a defesa da cidadania LGBTQIA+, além da luta pela igualdade de gênero, entre outras pautas que afirmam o respeito e o valor da diversidade, o PV ocupa no espectro político-partidário brasileiro um papel que o credencia a assumir posição importante — e até central — a respeito do tema. E o partido será tanto mais eficiente nesse esforço quanto mais rápido agir. 

Considerando essa urgência, acredito que estratégias interessantes podem incluir o empoderamento daqueles e daquelas que, no âmbito do partido, já assumiram a bandeira da diversidade. Podem incluir, ainda, a adesão do partido, por meio de suas estruturas de direção, a todas as iniciativas sociais e político-partidárias que já estão em campo na defesa da ideia de ampliar a diversidade nos espaços institucionais e de poder.   

Convergência

Tendo dito o que penso sobre rejuvenescer o nosso partido e atrair para ele mais jovens e mais diversidade, espero ter deixado claro que vejo nas três bandeiras vários conceitos e estratégias que podem e devem ser compartilhados. A luta dos jovens é a das mulheres, que é a dos LGBTQIA+, que é a dos povos originários e tradicionais, que é, afinal, a de todas as pessoas que assumiram alguma militância por um mundo diversamente sustentável.

Sendo mulher e sendo jovem, e tendo tido como parlamentar a experiência de defender a diversidade, eu creio que essa é uma bandeira possível e gratificante, embora seja também desafiadora. Sendo educadora de crianças e jovens, eu sustento que é possível fazer diferença formando mentalidades diferentes. E assim, partindo da minha trajetória até aqui, curta mas intensa, afirmo que a causa da diversidade no PV reúne todas as condições para ser vencedora.

Lohanna França, de 28 anos, é natural de Itaúna, onde iniciou sua vida pública em movimentos estudantis nos quais esteve presente a bandeira da causa ambiental. Tendo se mudado ainda na adolescência para Divinópolis, elegeu-se vereadora em 2020 com número recorde de votos. Nas eleições de 2022 conquistou o mandato de deputada estadual pelo PV na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

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